Nessa semana, o site Filme B aponta que a película 'Tropa de Elite' atingiu a marca de 700.000 expectadores. Trata-se da terceira maior bilheteria do cinema nacional em 2007 e até o final do ano deve chegar ao segundo posto. Do jeito que vai, pode até destronar 'A Grande Família', que segue como líder absoluto, com 2,2 milhões de pessoas pagantes. A questão, diante de tamanho sucesso, é: o desempenho do filme nas bilheterias ocorre apesar da pirataria feita antes de seu sucesso ou justamente por conta dela?
Antes de qualquer discussão, uma observação: trata-se de um filme muito bom, que merece toda a repercussão positiva que obteve. Aliás, o cinema brasileiro passa por uma bela fase – outro bom exemplo é 'O ano em que meus pais saíram de férias'.
Voltando à questão da pirataria: ajudou ou atrapalhou? Ou seja, se não houvesse a pirataria, a bilheteria seria maior do que a atual? Ou o 'buzz' gerado pela pirataria ajudou a criar uma forte curiosidade sobre a película, cujo ator principal estava estrelando uma novela prestes a acabar?
Não que a pirataria seja um fenômeno novo. Os adolescentes dos anos 70 e 80 gravavam em fitas cassete músicas que tocavam no rádio. Pirataria? Sem sombra de dúvida.
O que difere a pirataria de antes da atual? O alcance. Antes, essa prática era amadora e atingia algumas centenas de pessoas. Agora, milhares são impactados por DVDs que custam pouco e estão no mercado antes da obra original.
É como se houvesse dois níveis de pirataria. Um, condenável, é o do bandido que prensa DVDs ilegais e os vende por 10 reais através de camelôs. Em outro plano, no qual as pessoas não ganham dinheiro, e 'compartilham' coisas legais – como no You Tube – , parece que é OK piratear.
De volta à vaca fria: a exposição obtida por 'Tropa de Elite' durante o lançamento-pirata alavancou o interesse pelo filme. Até quem viu o DVD fajuto quis assistir ao filme no cinema, pois algumas cenas foram modificadas. Falou-se, falou-se e falou-se do filme. As principais revistas semanais renderam-se aos encantos da obra dirigida por José Padilha. Outras publicações e os jornais também deram grande espaço ao assunto.
Se a pirataria ajudou a colocar 'Tropa de Elite' no centro das atenções, então ela é boa? Claro que não. Mas é inegável perceber que o DVD pirata criou uma oportunidade única para o filme se expor na mídia e ganhar a atenção das pessoas. Até porque as pessoas que viram o longa ilegalmente criaram um boca-a-boca favorável, que de alguma forma deve ter alavancado a audiência. Isso jamais teria ocorrido se o filme em questão fosse ruim. Qualquer mecanismo de divulgação, voluntário ou involuntário, só funciona efetivamente quando o produto é bom. E 'Tropa de Elite' é bom.
Portanto, a conclusão é simples. A pirataria, nesse caso, ajudou. E nesse mercado ilegal há dois tipos de audiência. Um é o formador de opinião. Outro público é aquele sujeito que sempre gasta um dinheirinho com um DVD pirata, que custa o equivalente a uma locação numa grande rede.
A pirataria de 'Tropa de Elite' gerou um exército de 'endossadores', que estimulou outra leva de pessoas a pagar um ingresso de cinema.
Mas que fique registrado. Tudo isso só ocorreu porque o filme é bom. E que a pirataria é o tipo de ajuda que ninguém quer, ninguém deseja.
por Aluízio Falcão FilhoAluizio Falcão Filho
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